ADRIANO LOBÃO ARAGÃO
Durante o início do mês de dezembro de 2024, no IFPI José de Freitas, fizemos a leitura em sala de aula do conto Os dois reis e os dois labirintos, de Jorge Luis Borges. Depois, os alunos fizeram desenhos e novas versões do conto. Selecionamos algumas releituras e ilustrações realizadas durante a referida atividade.
Os dois reis e os dois labirintos
Jorge Luis Borges
Contam os homens dignos de fé (mas Alá sabe mais) que nos primeiros tempos houve um rei das ilhas da Babilônia que reuniu seus arquitetos e magos e os mandou construir um labirinto tão desconcertante e sutil, que os varões mais prudentes não se aventuraram a entrar, e os que entravam se perdiam. A obra era um escândalo, porque a confusão e a maravilha são operações próprias de Deus, e não dos homens. Com o passar do tempo veio à sua corte um rei dos árabes, e o rei da Babilônia (para zombar da simplicidade do hóspede) fez com que ele penetrasse no labirinto, onde perambulou ofendido e confuso até o cair da tarde. Então implorou socorro divino e deu com a porta. Seus lábios não proferiram queixa alguma, mas disse ao rei da Babilônia que ele na Arábia também tinha um labirinto que, se Deus fosse servido, lhe daria a conhecer algum dia. Depois voltou à Arábia, reuniu seus capitães e alcaides e devastou os reinos da Babilônia com tamanha boa sorte que arrasou seus castelos, dizimou sua gente e aprisionou o próprio rei. Amarrou-o em cima de um camelo veloz e o levou para o deserto. Cavalgaram três dias, e disse-lhe: “Ó rei do tempo e substância e cifra do século!, na Babilônia desejaste que eu me perdesse num labirinto de bronze com muitas escadas, portas e muros; o Poderoso teve por bem que eu agora te mostre o meu, onde não há escadas a subir, nem portas a forçar, nem cansativas galerias a percorrer, nem muros para impedir a passagem”.
Logo depois, desamarrou-o e o abandonou no meio do deserto, onde ele morreu de fome e sede. A glória esteja com Aquele que não morre.
(BORGES, Jorge Luis Borges. O Aleph. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. pp122-3)

Os dois reis e os dois labirintos
Francisco Gabriel
Naqueles dias, fui convocado por um grande rei da Babilônia. Eu, como rei dos Árabes, não pude recusar o convite. Mas mal sabia o que me esperava, já que seria alvo de uma sabotagem pelo próprio rei da Babilônia. Em um golpe de ingenuidade, acabei sendo levado para um lugar estranho, que logo se revelou um grande labirinto de bronze, cheio de escadas, portas e muros. Vaguei por aquele lugar até o cair da tarde. Então, comecei a implorar por minha vida. Por milagre, consegui fugir daquele lugar, mas jurei a mim mesmo que essa zombaria contra mim não sairia impune.

Os dois labirintos
Francisca Sofia
Eu, o Rei da Babilônia, observava meu labirinto magnífico e pensava: “A glória esteja com Aquele que não morre”. Orgulhoso da confusão que criei, imaginava como o Rei Árabe ficaria perdido em suas entranhas. Mas a ironia me pegou de surpresa. Agora, preso no deserto, sem saída, percebo que a verdadeira maravilha não está no complexidade do labirinto, mas na simplicidade de reconhecer o próprio destino.

Viagem à Babilônia
Ana Luísa Campos
A minha semana de trabalho estava sendo tranquila, até anunciarem a nossa ida à Babilônia. Era a minha primeira viagem com o meu novo senhor. Ele estava, ouso dizer, ansioso? Dificilmente.
Foram dias de viagem pelo deserto. O sol queimava em meu rosto. As pernas doíam pela longa cavalgada. Não estava acostumado a viajar. Para ser sincero, já são saía muito e, depois de chegar ao palácio, ficou ainda mais rara a minha disposição para tais atividades.
Fomos bem recebidos, com músicas e dançarinos. No jantar que nos foi servido, os dois reis conversavam continuamente, combinando de visitarem o labirinto que o Rei da Babilônia tinha em suas terras.
Na manhã seguinte, eles foram ao labirinto. Eu fiquei no castelo organizando as coisas para nossa partida daqui a dois dias. Eles ficaram o dia inteiro fora, e tamanha foi a minha surpresa quando me instruíram a pegar o que fosse possível e sair antes que o castelo desabasse. Fiz o que me ordenaram e segui rapidamente pelos corredores, as mãos cheias de bolsas. Procurava desesperadamente os camelos. Pessoas ao meu lado gritavam e corriam em direção às portas.
Depois de todo aquele caos, o meu senhor seguia impassível. Ninguém havia se dado ao trabalho de me explicar o porquê de atacarmos ou o porquê de estarmos levando o Rei da Babilônia conosco. Fiquei ainda mais confuso quando o deixamos no meio do deserto, para depois partirmos sem olhar para trás.
O camelo e os dois reis
Thayná
Vou lhes contar uma história de quando eu era um jovem camelo. O quê?! Vão me dizer que não querem ouvir as velhas histórias de um velho camelo? Sentem-se aí e ouçam.
Naquela época, eu trabalhava para o Rei dos Árabes, e estávamos de viagem, o rei e toda a corte, para a Babilônia. Ao chegarmos, fiquei do lado de fora do castelo do Rei da Babilônia. Francamente! Naquele sol escaldante, sem uma gota d’água, e ainda me amarraram num toco! Mas enfim, não sei que babado do balacobaco rolou no castelo, só sei que o Rei da Babilônia jogou o meu Rei dentro de um labirinto e nem vieram me soltar. Era o rei preso no labirinto e eu preso num toco.
Era quase noite quando vi meu Rei retornar. Também não sei o que rolou no labirinto, só sei que o meu Rei ficou pistola da vida. Voltamos para a Arábia e o Rei juntou uma tropa de soldados, e eu juntei uma tropa de camelos, claro. E partimos para atacar o reino da Babilônia. Foi um pau de briga daqueles. No fim, ganhamos! Eu estava cansado, exausto, e o meu Rei ainda amarrou o Rei perdedor nas minhas costas e me rumamos para o deserto. Deixamos o Rei da Babilônia lá naquele labirinto de terra, sem muros, e voltamos para o nosso cafofo. Acho que para compensar o tanto que eu andei e a sede que passei preso, amarrado naquele toco, fui recebido como um rei! Deveriam fazer isso mais vezes!

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Em breve, mais atualizações.